Monday, February 28, 2011

línguas em Jupiter


Ando à procura de um curso de idiomas em Júpiter. Minha linguagem, cá, parece-me obsoleta. Geralmente aprende-se línguas porque não as conhece. O meu caso é distinto. Sou uma aluna saturada da comunicação terráquea.

Não tenho pretensões ou anseios de parecer uma soberba e amargurada criatura. São apenas confissões de uma exígua ádvena ...caminhando pelo solo ininteligível das palavras. Sinto-me profundamente inadequada para tudo o que se diz comum entre as pessoas. Uma solidão indescritível de não pertencimento.

Tenho sonhado com essas tempestades vermelhas. Os ventos me recolhem para uma chuva ininterrupta de anéis. Enrodilhada, nada mais me é estranho ou desconexo. A comunhão com o astro sombrio, soberano, não é aleatória: necessito de uma aliança interplanetária.

Ando à procura de um curso de idiomas em Júpiter. A Terra deveria ser trezentas vezes maior e mais doce para abrigar o meu espírito inquieto. Para tornar menos difícil essa sensação excludente que me dilacera e me envenena. Não consigo mais tolerar a violência com que se ri do sofrimento. A ilusória satisfação desértica que institui os fracassos com repúdio. O sardonismo tem me tornado violenta também, dá a mim o gosto por sangue entre os lábios e os dentes. O céu da minha boca só quer sonhar com quimeras silenciosas.

Busco, incansavelmente, por essas luas infinitas. Invento uma noite eterna que supra todos os seres prolixos e ruidosos. A claridade tem sido cúmplice dos dislates imundos que povoam a humanidade.

E, aonde vou ter lições, deve haver uma aquiescência que transforme meu âmago alienígena. Um lugar cheio de tatuagens lunares não é capaz de comportar os desejos mesquinhos de sucesso. Porque as luas são muito misteriosas para se ocuparem com as compreensíveis respostas. Nenhuma solução é passível de se confluir com a nudez.

Quem pensa em covardia ou descaso, engana-se. Há um inescapável cansaço que atravessa meus dizeres e desassossega minha permanência. Tenho distraído esse estrangeiro coração que só me implora que eu retorne. É imprescritível vivenciar o calor das semelhanças. Antes do sol. Antes que a colonização paralise os arroubos de galáxia. A esperança sempre avista discos voadores.

No comments:

Post a Comment